Início Ciência e tecnologia Após 25 anos, cientistas resolveram o mistério dos morcegos comedores de pássaros

Após 25 anos, cientistas resolveram o mistério dos morcegos comedores de pássaros

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Depois de quase um quarto de investigação, os cientistas resolveram um mistério notável. O maior morcego da Europa não se alimenta apenas de pequenos pássaros – ele caça-os e apanha-os a mais de um quilómetro acima do solo e come-os durante o voo.

Uma equipa de investigação internacional descobriu como este morcego gigante caça e come as suas presas. Suas descobertas, publicadas ciênciaRevela uma história maravilhosa de perseguições aéreas noturnas, ataques de precisão e caça na escuridão total.

Todos os anos, milhares de milhões de aves canoras migram entre áreas de reprodução e de invernada. Muitos viajam à noite e em grandes altitudes para evitar predadores diurnos. No entanto, voar no escuro traz os seus próprios perigos, já que os morcegos dominam o céu noturno.

Andando nas costas de um morcego

Para compreender estes predadores indescritíveis, os cientistas “caminham ao lado” do maior morcego da Europa – o nóctulo maior (Nyctalus lasiopterus) – equipando os indivíduos com pequenas “mochilas” desenvolvidas por biólogos da Universidade de Aarhus. Estes dispositivos leves medem a altura, a aceleração, o movimento e o som dos morcegos (incluindo os seus chamados de ecolocalização), proporcionando uma visão sem precedentes das suas táticas de caça noturna a um quilómetro acima do solo.

Os dados revelaram que os morcegos voam alto no céu noturno para procurar e atacar aves suspeitas. Ao contrário dos insetos, os pássaros não conseguem detectar os chamados ultrassônicos dos morcegos e sentir o perigo momentos antes de serem capturados.

Seu sucesso depende de chamados de ecolocalização fortes e de baixa frequência, capazes de detectar pássaros em longas distâncias. Quando se aproximam de um alvo, os morcegos emitem uma rápida explosão de gritos curtos sinalizando o estágio final do ataque.

Mergulhos corajosos

Dados de biólogos mostram que os morcegos atacam suas presas em mergulhos íngremes e de alta velocidade que lembram caças em combate.

Em duas perseguições gravadas, os morcegos bateram as asas com mais força, triplicaram sua aceleração e emitiram gritos de ataque contínuos, por 30 e 176 segundos, respectivamente.

O primeiro morcego acabou por desistir da perseguição – as aves também são trapezistas ágeis – mas o segundo conseguiu, após cerca de três minutos de perseguição, capturar um tordo perto do chão.

O microfone gravou 21 pedidos de socorro do tordo, seguidos de 23 minutos de mastigação enquanto o morcego voava, batendo as asas.

Combinados com raios X e análise de ADN das asas da ave encontradas por baixo da presa, estes resultados confirmam o que acontece a seguir: o morcego mata a ave com uma mordida, remove-lhe as asas (talvez arrastando-a) e depois usa a membrana entre as patas traseiras para segurar e comer a presa enquanto esta está no ar.

Truques selvagens

“Sabemos que os pássaros canoros usam truques selvagens, como laços e espirais, para escapar de predadores como os falcões durante o dia – e parecem usar as mesmas táticas contra os morcegos à noite. É interessante que os morcegos possam não apenas pegá-los, mas também matá-los durante o vôo. Um pássaro como um morcego pode comer cerca de metade do peso e o mesmo que eu. Um animal de 35 kg enquanto corre”, Professor Assistente de Biologia na Universidade de Aarhus. Laura Steedsholt explica.

Stidsholt, principal autor do estudo, passou anos aperfeiçoando a técnica do biólogo na pesquisa de morcegos, o que levou a inúmeras descobertas. Quando concluiu a coleta e análise de dados para este projeto, ele fazia pós-doutorado no Instituto Leibniz de Pesquisa de Zoológicos e Vida Selvagem (Leibniz-IGW) em Berlim.

Uma hipótese de 25 anos é confirmada

Durante décadas, os cientistas suspeitaram que algumas espécies de morcegos grandes caçavam pequenos pássaros durante o vôo. Grande parte deste trabalho provém do especialista espanhol em morcegos Carlos Ibáñez e de colegas da Estação Biológica Donana (CSIC) em Sevilha.

Há cerca de 25 anos, Ibanez encontrou penas de aves em grandes excrementos noturnos e passou anos a recolher provas de que estes morcegos eram de facto predadores de aves.

Sua equipe monitorou de perto essa esquiva espécie que vive na floresta, usando poleiros “inteligentes” equipados com antenas para detectar microchips implantados no morcego. O sistema rastreia a movimentação, armazena dados e envia alertas para os telefones dos pesquisadores em tempo real.

Apesar das evidências, a ideia de que os morcegos podem capturar pássaros no ar tem sido posta em dúvida, já que os pássaros podem pesar cerca de metade do peso dos próprios morcegos.

Filmar esta caçada revelou-se impossível no escuro. Ao longo dos anos, os pesquisadores fizeram experiências com câmeras de poleiro, radares militares, balões de ar quente com gravadores de ultrassom e rastreadores GPS – lutando para criar equipamentos leves o suficiente para serem carregados pelos morcegos.

Finalmente, com novos microbiologistas da Universidade de Aarhus – e quando Ibenez se aproximava da reforma – a equipa conseguiu registar um nóctulo maior a caçar e a comer uma ave em voo.

Essencial para a conservação dos morcegos

Para a coautora Elena Tena, ouvir a gravação foi emocionante e instigante:

“Embora desperte simpatia pela vítima, faz parte da natureza. Sabíamos que havíamos gravado algo extraordinário. Para a equipe, confirmou o que procurávamos há tanto tempo. Tive que ouvir várias vezes para apreciar plenamente o que havíamos gravado.”

Felizmente, estes morcegos não representam uma ameaça para as populações de aves canoras. O nóctulo maior é extremamente raro e está ameaçado de extinção em muitas regiões devido à perda de habitat florestal.

Compreender o seu comportamento e ecologia é agora vital para o desenvolvimento de estratégias de conservação e gestão que possam ajudar a proteger o predador nocturno mais notável da Europa.

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